O que você precisa saber sobre o Lipedema

O Lipedema é uma doença crônica e progressiva caracterizada pela distribuição anormal de gordura nos braços e pernas, resultando em membros doloridos e desproporcionais.¹

A doença afeta quase exclusivamente mulheres, geralmente se manifesta na puberdade e está associada a dor, maior sensibilidade e formação de hematomas espontâneos nas áreas afetadas,2,3 podendo levar a um comprometimento funcional, estético e psicossocial significativos.¹ 

Essa condição é frequentemente subdiagnosticada ou confundida com outras doenças com apresentações semelhantes, como o Linfedema ou mesmo a obesidade.3,4

Apesar do impacto significativo na saúde da mulher, a fisiopatologia (causa) do Lipedema não é totalmente compreendida, mas acredita-se que envolva uma combinação de suscetibilidade genética, influências hormonais e distúrbios dos sistemas microvascular e linfático.¹ 

Estudos genéticos sugerem que o lipedema pode ter um componente hereditário, embora genes específicos ainda não tenham sido definitivamente identificados. 5,6

O diagnóstico do Lipedema

O diagnóstico do Lipedema é clínico, baseado na história e no exame físico do paciente. 7 

Além disso, as principais características clínicas incluem quadril, pernas e braços aumentados de volume devido ao depósito anormal de gordura, associado à dor, fácil formação de hematomas e sensibilidade aumentada.8

Aliás, a dor é uma característica central do Lipedema e pode ajudar a diferenciá-lo de outras doenças do tecido adiposo.9 O acúmulo desproporcional de gordura normalmente poupa os tornozelos e principalmente os pés. 7 

Exames de imagem podem fornecer informações adicionais, mas seu valor é limitado. 10,11 

É importante também observar que o lipedema pode ser difícil de distinguir de outras condições, como Linfedema, Flebolinfedema e obesidade. 7,8

Portanto, uma avaliação clínica abrangente e especializada é crucial para um diagnóstico preciso.

Como classificar o Lipedema

Após feito o diagnóstico, o Lipedema deve ser categorizado em tipos e estágios com base na distribuição da gordura e na presença de alterações da gordura.12

Os tipos de lipedema são normalmente classificados com base nas áreas do corpo afetadas:

  • Tipo 1: acúmulo de gordura nas nádegas e quadris;
  • Tipo 2: o acúmulo de gordura se estende dos quadris até os joelhos, com dobras de gordura ao redor da parte interna do joelho;
  • Tipo 3: o acúmulo de gordura se estende dos quadris até os tornozelos;
  • Tipo 4: acúmulo de gordura nos braços (comummente associada ao tipo 2, 3 ou 5);
  • Tipo 5: acúmulo de gordura nas pernas. 

Os estágios do lipedema são definidos pela textura e aparência da pele e dos tecidos adjacentes:

  • Estágio 1: A superfície da pele permanece lisa, mas a camada subcutânea (abaixo da pele) mostra um aumento nos depósitos de gordura;
  • Estágio 2: A pele começa a ficar irregular devido ao aumento do tamanho dos acúmulos de gordura;
  • Estágio 3: Grandes extrusões de pele e lóbulos de gordura se formam, levando a deformidades superficiais significativas.

Lipedema e seu tratamento

O tratamento do Lipedema pode ser clínico e/ou cirúrgico. A escolha do tratamento depende das necessidades individuais do paciente e do estágio da doença.13

As medidas para perda de peso – frequentemente prescritas, tendo em vista que o Lipedema frequentemente se confunde com a obesidade – apresentam efeito mínimo na melhora do Lipedema, pois não alteram a distribuição anormal da gordura corporal. 

Isso pode pode levar a distúrbios alimentares, aumento do risco de depressão e outras queixas psicológicas.

Os tratamentos não cirúrgicos para o Lipedema incluem fisioterapia e reabilitação, que podem ajudar a controlar os sintomas e prevenir complicações.14

A terapia física complexa, a hidroterapia, exercícios aeróbicos e o treinamento com exercícios de resistência demonstraram ser benéficos no tratamento do Lipedema.14 

Já a compressão pneumática em combinação com terapia física complexa pode ser eficaz na redução do volume dos membros inferiores e na medição da circunferência em pacientes que sofrem dessa doença.15

As opções de tratamento cirúrgico incluem principalmente a lipoaspiração, com o objetivo de retirar o tecido adiposo doente e prevenir complicações.16

Até mesmo pacientes com Lipedema em estágio inicial podem se beneficiar em casos selecionados, levando a uma diminuição acentuada na gravidade dos sintomas e melhora na qualidade de vida.17

Em termos de intervenções nutricionais, uma dieta cetogênica de muito baixas calorias tem sido sugerida como um tratamento potencial para o Lipedema, particularmente no contexto da obesidade associada, devido às suas propriedades anti-inflamatórias. 18

No entanto, mais pesquisas são necessárias para determinar a segurança e eficácia em longo prazo desse tipo de dieta como tratamento para Lipedema.18

Em resumo, o tratamento do Lipedema é multidisciplinar e deve ser individualizado de acordo com as necessidades do paciente e o estágio da doença, que pode incluir uma combinação de fisioterapia, reabilitação, intervenções cirúrgicas e modificações nutricionais.

Diagnóstico e tratamento para doenças vasculares em Brasília

O Dr. Bruno Lorenção é médico formado pela Escola de Medicina da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (ES) e possui título de especialista em Cirurgia Geral pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em Cirurgia Vascular, Angiorradiologia/Cirurgia Endovascular e Ecografia Vascular com Doppler pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (IDPC). Tem Doutorado junto à Universidade de São Paulo (USP) e  Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Ele realiza seus atendimentos em Brasília, nos hospitais da Rede D’or, além de sua clínica privada.

REFERÊNCIAS:

  1. Lipedema: A Call to Action!. Buso G, Depairon M, Tomson D, et al. Obesity (Silver Spring, Md.). 2019;27(10):1567-1576. doi:10.1002/oby.22597.
  2. Lipedema, a Frequently Unrecognized Problem. Fonder MA, Loveless JW, Lazarus GS. Journal of the American Academy of Dermatology. 2007;57(2 Suppl):S1-3. doi:10.1016/j.jaad.2006.09.023.
  3. Lipedema: An Inherited Condition. Child AH, Gordon KD, Sharpe P, et al. American Journal of Medical Genetics. Part A. 2010;152A(4):970-6. doi:10.1002/ajmg.a.33313.
  4. Lymphatic Function and Anatomy in Early Stages of Lipedema. Rasmussen JC, Aldrich MB, Fife CE, Herbst KL, Sevick-Muraca EM. Obesity (Silver Spring, Md.). 2022;30(7):1391-1400. doi:10.1002/oby.23458.
  5. Genome-Wide Association Study of a Lipedema Phenotype Among Women in the UK Biobank Identifies Multiple Genetic Risk Factors. Klimentidis YC, Chen Z, Gonzalez-Garay ML, et al. European Journal of Human Genetics : EJHG. 2023;31(3):338-344. doi:10.1038/s41431-022-01231-6.
  6. Investigation of Clinical Characteristics and Genome Associations in the ‘UK Lipoedema’ Cohort. Grigoriadis D, Sackey E, Riches K, et al. PloS One. 2022;17(10):e0274867. doi:10.1371/journal.pone.0274867.
  7. Lipedema: What We Don’t Know. van la Parra RFD, Deconinck C, Pirson G, Servaes M, Fosseprez P. Journal of Plastic, Reconstructive & Aesthetic Surgery : JPRAS. 2023;84:302-312. doi:10.1016/j.bjps.2023.05.056.
  8. Cause and Management of Lipedema-Associated Pain. Aksoy H, Karadag AS, Wollina U. Dermatologic Therapy. 2021;34(1):e14364. doi:10.1111/dth.14364.
  9. Lipedema Pain-the Neglected Symptom. Hucho T. Dermatologie (Heidelberg, Germany). 2023;74(8):575-579. doi:10.1007/s00105-023-05189-4.
  10. Lymphoscintigraphic Alterations in Lower Limbs in Women With Lipedema in Comparison to Women With Overweight/Obesity. Chachaj A, Dudka I, Jeziorek M, et al. Frontiers in Physiology. 2023;14:1099555. doi:10.3389/fphys.2023.1099555. Copyright License: CC BY
  11. Diagnostic Imaging in Lipedema: A Systematic Review. van la Parra RFD, Deconinck C, Krug B. Obesity Reviews : An Official Journal of the International Association for the Study of Obesity. 2023;. doi:10.1111/obr.13648.
  12. Lipedema: A Call to Action! Buso G, Depairon M, Tomson D, et al. Obesity (Silver Spring, Md.). 2019;27(10):1567-1576. doi:10.1002/oby.22597.
  13. Lipedema Can Be Treated Non-Surgically: A Report of 5 Cases. Amato ACM, Benitti DA. The American Journal of Case Reports. 2021;22:e934406. doi:10.12659/AJCR.934406.
  14. Physiotherapy and Rehabilitation Applications in Lipedema Management: A Literature Review.  Esmer M, Schingale FJ, Unal D, Yazıcı MV, Güzel NA. Lymphology. 2020;53(2):88-95.
  15. Effect of Physical Therapy on Circumference Measurement and Extremity Volume in Patients Suffering From Lipedema With Secondary Lymphedema. Esmer M, Schingale FJ. Lymphatic Research and Biology. 2023;. doi:10.1089/lrb.2023.0013.
  16. Lipedema: Up-to-Date of A long Forgotten Disease. Wollina U. Wiener Medizinische Wochenschrift (1946). 2017;167(13-14):343-348. doi:10.1007/s10354-017-0566-2.
  17. Water-Jet-Assisted Liposuction for the Treatment of Lipedema: Standardized Treatment Protocol and Results of 63 Patients. Witte T, Dadras M, Heck FC, et al. Journal of Plastic, Reconstructive & Aesthetic Surgery : JPRAS. 2020;73(9):1637-1644. doi:10.1016/j.bjps.2020.03.002.
  18. Ketogenic Diet: A Nutritional Therapeutic Tool for Lipedema?.Verde L, Camajani E, Annunziata G, et al. Current Obesity Reports. 2023; doi:10.1007/s13679-023-00536-x.

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Dr. Bruno Lorenção. MD, PhD.

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